UM PASSEIO PELOS ESCOMBROS: cenas testemunhais da pandemia de Covid-19 no contexto negacionista brasileiro

Witness scenes of the Covid-19 pandemic in the Brazilian denial context

Autores

DOI:

https://doi.org/10.13037/ci.vol25n52.8520

Palavras-chave:

Covid-19, Crise epistêmica da democracia, Negacionismo, Testemunho, Trauma.

Resumo

O artigo objetiva analisar cenas testemunhais da pandemia de Covid-19 no Brasil compartilhadas pelo perfil @covidphotobrazil, no Instagram, em março de 2021. O atual cenário do negacionismo pandêmico brasileiro é discutido à luz dos debates contemporâneos sobre processos de erosão democrática em que se verifica, dentre outros aspectos, o uso sistemático da mentira, tomando o negacionismo pandêmico como uma as formas pelas quais o governo brasileiro investe em uma agenda de mentira e desinformação. Esse processo resulta no apagamento das vidas e histórias dos que adoeceram e morreram, culminando no esquecimento e na dificuldade em se produzir uma memória social do atual momento. As cenas testemunhais são analisadas à luz dessas discussões, da crítica ao historicismo de Walter Benjamin e das noções de precarização de determinadas vidas de Judith Butler, constituindo-se, portanto, como registros da história dos sobreviventes e como política da memória contra o esquecimento.

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Biografia do Autor

Frances Vaz, UFMG

Geraldo Frances Fonseca Vaz é mestre e doutorando em Comunicação Social pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da UFMG, com graduação em Relações Públicas pela mesma universidade. É analista legislativo da Assembleia Legislativa de Minas Gerais e integrante do Comitê Executivo da Política de Participação da ALMG.

Ângela Cristina Salgueiro Marques, Universidade Federal de Minas Gerais

Ângela Cristina Salgueiro Marques é Professora Associada do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Docente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFMG. É co-autora dos livros Apelos solidários (Intermeios, 2017), escrito com Angie Biondi; Diálogos e Dissidências: M. Foucault e J. Rancière (Appris, 2018), com Marco Aurélio Máximo Prado; Ética, Mídia e Comunicação (Summus, 2018) e No caos da convivência (Vozes, 2020), ambos com Luis Mauro Sá Martino. Traduziu os seguintes livros de Jacques Rancière: O método da cena (Quixote + Do, 2021) e O trabalho das imagens (Chão da Feira, 2021).

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Publicado

2022-09-13